O céu se fecha cada vez mais. As nuvens parecem abraçar-se umas às outras e se aproximam do solo, enegrecendo uma tarde que tinha tudo para transcorrer na mais absoluta tranqüilidade, como têm sido ultimamente.
O vento sopra com uma violência raramente vista assumindo uma sonoridade que mais parece o grito das almas despedaçadas nos planos inferiores do Abismo.
A chuva, fria e cortante como finas lâminas, começa a se tornar um sério incômodo para todos que estão ao ar livre.
Os bravos arqueiros da murada frontal do forte se entreolham com visível temor. Nem um único deles foi capaz de disfarçar a sensação causada pelo enregelante olhar do elfo negro.
Alguns deles, mais assustados, agacharam-se atrás da murada. Alguns tremiam, alguns choramingavam e alguns, que não eram mais capazes de decidir como iriam manifestar o pavor que sentiam, simplesmente choramingavam tremendo.
Aqueles que mantiveram sua bravura e seu compromisso com a defesa daquele forte aparentemente condenado, foram os únicos capazes de ouvir os sonoros e graves risos do elfo negro enquanto seu pequeno exército vencia a colina e firmava posição a pouco mais de trinta metros do forte.
Furiosos, esses corajosos homens tencionaram quase que ao mesmo tempo as cordas de seus arcos apontando exatamente para a primeira fileira de guerreiros.
Prontos para atirar, eles inspiraram o pesado e úmido ar, apontaram para a primeira fileira de guerreiros e libertaram, instantes depois, as primeiras doze flechas que cortaram, com um agudo zunido, o tempestuoso céu que todos tinham sobre suas cabeças. Doze flechas. Doze pássaros de madeira que, caprichosamente, voaram ao sabor da ventania correndo por todo o campo e pousando, unanimemente, sem atingir um adversário sequer.
Repentinamente, todos se voltam para o elfo negro que ainda ria. No momento que a última flecha atinge o solo, o que era um riso se torna uma gargalhada.
Mal o som dessas galhofas chega ao ouvido dos arqueiros na murada, gritos de guerra ecoam por todo o forte. Todos os guerreiros do forte se encontram logo atrás do portão. Alguns sobem às muradas com arcos em punho e flechas em suas aljavas. Um brilho de esperança surge nos corações dos defensores do forte, ao mesmo tempo que as ordens do capitão Plahud Esop, líder dessa fortificação, rompem a cacofonia da tormenta. Um breve alívio percorre a tropa defensora até que um reverberante zunido chega aos ouvidos de todos.
Como prateadas aves de rapina em seu bote mortal, dezenas de flechas começam a cair dentro do forte, levando em seu mergulho mortal a vida de três arqueiros, dois guerreiros e a voz de Plahud Esop, que teve sua garganta atravessada mortalmente pela ponta de uma dessas setas negras, a qual atingiu-o em um dos pouquíssimos pontos fracos de sua armadura de batalha.
Repentinamente, com a voz de Plahud, se vão as vozes de todos os guerreiros que agitavam-se dentro da fortificação. Por um breve momento tudo parece calar, tudo se aquieta no âmago dos defensores.
Dessa mesma forma inesperada, um urro desordenado corta o ar e chega aos ouvidos de todos. Um arqueiro que parecia obcecado em acertar o mais certeiro tiro de sua vida naquele elfo negro, não tirando os olhos dele nem por um momento, observa seu alvo erguer a mão direita na frente de seu rosto.
Chamas púrpuras começam a cobri-la do pulso aos dedos. O rosto do elfo se ilumina. Seus cabelos, agora arroxeados, se agitam intensamente. Sua mão desce em direção ao centro de seu tórax e seu braço se estende à frente. Em um instante seu corpo é coberto pelas chamas púrpuras que unem-se em sua mão direita, para, logo em seguida, partir em disparada na direção do portão central do forte.
- BOLA DE FOGO !!!! – Berra o assustado arqueiro.
Menos de um segundo depois, acompanhado de um relâmpago que atinge violentamente a floresta, e de seu retumbante trovão, o portão da fortificação explode em uma imensa, porém fria, flama púrpura, que começa imediatamente a consumir a lenha escura que compunha esse precioso bastião de defesa do forte.
Todos os atacantes gritam com intensa alegria, grito seguido por uma imediata ordem de carga vociferada pelo autor da magia que lhes serviu de aríete, a qual, por sua vez, é seguida por uma imediata movimentação dos numerosos guerreiros que puseram essa construção sob sítio.
Não suportando mais manter-se de pé por suas próprias forças, Plahud dirige seu olhar para o céu, vindo a deitá-lo, imediatamente sobre o portão frontal, assistindo, pouco antes de perder os sentidos, a segunda leva de flechas negras percorrer o céu enquanto os primeiros adversários adentram o local que ele adotou e defendia como se fosse o próprio ventre de sua esposa, à espera do infante espadachim que ele sonhava ter como filho.
domingo, 18 de março de 2007
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2 comentários:
Wow!!!!
Estou achando fascinante a sua história! Ainda não captei toda a essência dela, mas depois, vou reler para tentar compreendê-la melhor!
Nossa...você me inspirou hoje! Seus textos me inspiraram!!!
Estou aproveitando esse momento para metralhar o meu Cherie com palavras belas! XD
Espero também, ser útil para você!
Kisses for you!
O visual pergaminho pegou super bem, não acha? ^^
Beijos!
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